Histórias de há quase 60 anos!
Resposta do Pai à carta (18-8-1958) recebida da Câmara Municipal de Diu anunciando que o seu nome foi dado a uma rua do distrito de Diu.
Companhia Colonial do Búzi
Direcção - Particular
Caixa Postal 68
Beira
Exmo. Sr. Presidente da Câmara Municipal de Diu
Muito agradeço a V. Exa. a comunicação que me foi feita , transmitindo cópia de parte da acta da sessão ordinária dessa Câmara, de 31 de Julho findo, que se refere à decisão de dar o meu nome à rua que vai dos Paços do Concelho à antiga Rua D. João de Castro.
Essa decisão, e as palavras que a exprimiram, traduzem sentimentos de amizade, a que sou extremamente grato, e que considero excessivo prémio ao amor que realmente dediquei a essa Ilustre Cidade e aos meus esforços, quando seu Governador, inteiramente dedicados à grandeza e prosperidade do seu Distrito e dos seus habitantes.
Acompanhei-os num período difícil, partilhando fraternalmente as vossas ansiedades, mas devo reconhecer que às minhas grandes ambições de servir a Cidade não corresponderam resultados proporcionados, talvez por as minhas forças serem inferiores à minha boa vontade e, também pelo escasso tempo de que dispus e limitadas atribuições do cargo que exerci.
No meu Governo, porém, evidenciaram-se, de forma prática, a natural tendência para as relações amistosas entre Portugueses e Indianos, e as suas possibilidades de coexistência, pacífica e digna, no mesmo solo Hindustânico. Penso que é, talvez, por ter assim contribuído para tornar à luz uma verdade, que então eclipsada por poeiras ocasionais, e por essa verdade ser cara ao coração dos Indo-Portugueses, que os de Diu me têm dedicado tão fiel amizade.
Traduzindo o meu reconhecimento, a essa Ilustre Câmara e os sentimentos de amizade que retribuo à Cidade, acabo de oferecer à Associação de Patinagem da Beira uma taça, a que pus o nome sempre glorioso da Cidade de Diu, e que será disputada durante vários anos pelas equipas de hockey em patins deste Distrito.
Peço aceitem esta minha modesta homenagem à Cidade como o preito da minha gratidão e da maior admiração pelo comportamento exemplar dos seus habitantes através os difíceis anos de crise de que estamos agora vendo o fim.
Endereçando aos Ilustres Membros da Vereação e à Câmara os meus cumprimentos, subscrevo-me de V. Exas. com a mais elevada consideração.
Deus Guarde a V. Exas.
14.9.1958
(a) D. Miguel de Paiva Couceiro
A História que descobri mais tarde:
... Estava eu a passar férias no Búzi, com o meu Pai, quando apareceu lá em casa esta linda Taça que iria ser disputada durante alguns anos pelas equipas de hóquei em patins da Província de Manica e Sofala. Até hoje só sabia que ela se chamava "Taça Diu" e que tinha sido desenhada pelo meu Pai...
Mas esta Taça tem de facto uma história curiosa: acabo de "descobrir", no acervo do meu Pai, a história verdadeira que eu, então com 14 anos, certamente não tinha compreendido. Neste acervo encontrei a carta que publico, na qual a Câmara de Diu anuncia ao meu Pai, antigo Governador, que tinha decidido dar o seu nome a uma rua do Distrito.
Mas é na resposta do meu Pai que eu peguei o fio da meada pois é nessa sua carta que descobri que a Taça de Diu representava o seu agradecimento à Câmara de Diu.
Nas suas palavras:
"...Traduzindo o meu reconhecimento, a essa Ilustre Câmara e os sentimentos de amizade que retribuo à Cidade, acabo de oferecer à Associação de Patinagem da Beira uma taça, a que pus o nome sempre glorioso da Cidade de Diu, e que será disputada durante vários anos pelas equipas de hockey em patins deste Distrito..."
Obrigado meu querido Pai por ter guardado tantos documentos que fazem a minha delícia tantos anos mais tarde!
Comentários no FaceBook:
...Quando o meu Pai chegou ao Búzi, em 1953, só havia um velho cinema para distrair a população. Muito cedo o meu Pai contratou jogadores de hóquei da metrópole, a maior parte mecânicos que trabalhavam nas fábricas do Búzi, e assim se formou uma equipa que foi muitas vezes campeã de Manica e Sofala. Foi lá que aprendi a jogar hóquei em 1955. Infelizmente o hóquei acabou com a independência de Moçambique em 1975, mas não sei durante quantos anos essa taça foi disputada no Búzi. Quanto à Índia Portuguesa, penso que não se jogava hóquei. Angola e Moçambique tiveram enormes jogadores nas grandes cidades, mas no Búzi continua a ser um grande mistério pois o Pai não era grande amador de desporto - talvez a ideia tenha vindo de um seu colaborador cujo irmão, Vasco Velez, era antigo internacional de Portugal e foi o primeiro capitão da primeira equipa do Clube Recreativo do Búzi.
- Aos poucos, graças ao João Mascarenhas, ao
Rui Pinho aos meus velhos amigos do Búzi de que eles fazem parte, vou conhecendo o resto da história: a final do torneio foi entre o CRB (Clube Recreativo do Búzi) e o Ferroviário da Beira. Ganhou o Búzi e a taça ficou durante anos na montra das taças do clube e por lá ficou...
DESSA EQUIPA DO CLUBE RECREATIVO DO BUZI - CLUBE DA COMPANHIA DO BUZI - SEDIADA EM VILA NOVA DE ARRIAGA QUE PERTENCIA AO CONCELHO DO BUZI - CUJA SEDE ERA VILA NOVA LUSITÂNIA , ONDE NASCI COMO OUTROS HOQUISTAS, IRMÃOS SARABANDA , ZECA DA CRUZ ( JA FALECIDO), IRMÃOS LEITÃO, IRMÃOS MENDES, FIZERAM PARTE GRANDES JOGADORES CARVALHO, BICA, VELEZ, VELASCO ( MEU PRIMO E CAMPEAO EUROPEU E DO MUNDO). CANDEIAS ENTRE OUTROS.